1 de jun. de 2011

Funcionalidade: Os jardins sensoriais e suas principais características

O jardim, desde a antiguidade, sempre foi um espaço de lazer e prazer mesclando um paradigma de sonho e realidade. Através deste espaço, era possível viajar no tempo, experimentar sensações diferentes, promover encontros e entrar em contato com a natureza em sua mais exuberante expressão.
Segundo Michael Corajaud, o jardim é como fragmento de um sonho e deve ser compartilhado por todo e qualquer usuário, incluindo os portadores de algum tipo de deficiência - visual, auditiva ou física. Os idosos também têm direito, com sua natural perda de mobilidade e diminuição dos sentidos. 


Mas, infelizmente, grande parte dos jardins brasileiros, tanto residenciais quanto públicos, não atendem esta parcela da sociedade por conta da falta de adequação de seus espaços. Em sua maioria, os jardins não são adaptados aos portadores de deficiência e/ou idosos incluindo em seus espaços espécies inadequadas, sem falar de detalhes construtivos como rebaixos e desníveis que dificultam a circulação dos deficientes. 



A idéia de criar um jardim sensorial residencial, com condições bastante peculiares, surgiu exatamente para amenizar toda essa dificuldade, além de proporcionar para esta parcela da sociedade o contato com a natureza em suas próprias residências. O projeto do jardim pode ser adaptado para varandas e até mesmo para o interior das casas. 



O jardim sensorial deverá ficar suspenso a uma altura pré-determinada, considerando passagem tanto para cadeirantes quanto deficientes visuais e idosos. Este recurso garante o livre acesso a todos que queiram tocar ou cuidar das espécies com facilidade. 



O jardim sensorial possui grande influência oriental, manifestando-se através de quatro sentidos do corpo humano: 



• O tato -  através das texturas das plantas, 

• A audição - com os repuxos d’água, 

• A visão - através das cores exuberantes e, finalmente 

• O olfato - com os aromas das espécies. 



As espécies possuem diferentes texturas e através delas é possível garantir um resultado satisfatório, através do tato. Um bom exemplo disso é o caso das suculentas. Um pequeno jardim de cactos pode apresentar infinitas texturas e um resultado excelente principalmente considerando os deficientes visuais. 

As pequenas fontes e repuxos d’ água também são responsáveis por agradáveis sensações e podem ser inseridas em qualquer jardim através de um simples sistema de bombeamento de água semelhante ao utilizado em aquários. O som emitido pela água é calmante e terapêutico segundo especialistas holísticos. 

As cores exuberantes das flores e folhagens também garantem excelentes resultados no que se refere ao aspecto visual do jardim. Suas combinações podem considerar as mais infinitas gamas de cores. Petúnias, rabos de gato, violetas, lírios da paz, gerânios, ixoras e plumbagos estão entre as mais cotadas para pequenos vasos e jardineiras. O resultado policromático também pode variar conforme as estações do ano. 

E, finalmente, os jardins sensoriais olfativos - comumente conhecidos como jardins aromáticos ou de ervas, de influência medieval - também podem ser utilizados. Nestes jardins é possível sentir o agradável aroma das ervas e temperos caseiros, além de servirem no preparo de receitas culinárias e temperos em geral. As espécies mais utilizadas são o alecrim, hortelã, manjericão, salsinha, cebolinha, gengibre, coentro, além de ervas que servem para ungüentos e chás, como camomila, erva doce e erva-cidreira, dentre outras. 

Segundo especialistas, as ervas aromáticas possuem efeitos terapêuticos, entram através das células sensíveis que cobrem as passagens nasais, chegando direto para o cérebro. Desta forma tais ervas afetam as emoções, atuando no sistema límbico que também controla as principais funções do corpo. 

Abaixo estão listadas algumas das mais importantes e conhecidas ervas terapêuticas e suas principais características: 

Alecrim (Rosmarinus officinalis) 
O nome tem origem lingüista árabe, vem da palavra “al ikilil”. Erva proveniente da região mediterrânea, foi muito apreciada por suas virtudes aromáticas e medicinais. Conta uma lenda que a rainha da Hungria, Elizabeth, que viveu no século XIII, curou seu reumatismo e gota com água preparada por alecrim. 

Hortelã (Mentha avensis) 

Existem muitas variedades de hortelã, cada uma com suas características próprias. Diziam os antigos que conhecer todas as variedades seria tão difícil quanto o saber poderia ser comprado em farmácias. Sua essência aromática tem efeito terapêutico digestivo e descongestionante. 


Manjericão (Ocimun minimum) 

Herbácea natural da Ásia tropical, da África e de algumas ilhas do Pacífico. Repele insetos em hortas e jardins. Muito utilizado na medicina caseira em forma de chá por relaxar e aliviar dores de cabeça de origem nervosa. Também utilizado pelos terapeutas holísticos na aromaterapia, para tratar vários outros sintomas. 


Salsa (Petroselinum sativum) 

É a erva mais utilizada na cozinha, pois guarnece saladas, peixes, legumes e muito mais. Todas as partes são aproveitadas, pois têm o mesmo aroma. Conta a mitologia que Hércules, o vencedor do leão da Numídia, foi coroado com folhas de salsa. Um ornamento modesto para tão grande herói, quando outros eram coroados com folhas de louro. A salsa tem poder aromático terapêutico para “cistite”, e é encontrada nos supermercados em buquês, normalmente junto com a cebolinha. 



É importante ressaltar que todas as espécies acima citadas são perfeitamente adaptáveis ao plantio em jardineiras, pequenos canteiros ou vasos. Na escolha de espécies para jardins sensoriais, é fundamental que sejam evitadas aquelas que possuem espinhos, como as roseiras, algumas bromélias e suculentas. Também devem ser evitadas algumas plantas munidas de substâncias tóxicas, como espinho de cristo e comigo-ninguém-pode, dentre outras.


Plantas medicinais:
Basilicão (Ocimum basilicum var. basilicum)
Boldo-de-arvorezinha (Coleus sp.)
Cavalinha (Equisetum hyemale L.)
Chambá (Justicia pectoralis Jacq.)
Falso-boldo (Coleus ambonicus)
Gengibre (Zingiber officinalis L.)
Gerânio-medicinal (Pelargonium odorantissimum)
Guaco (Mikania glomerata Spreng.)
Maranta (Maranta arundinaceae L.)
Patchuli (Pogostemum heyneanus Benth.)

Plantas de perfume:
Bogarí (Jasminum sambac)
Cravo (Dianthus cariophyllus)
Jasmim-estrela (Trachelospermum jasminoides Lindl.)
Madressilva (Lonicera hildebrantiana)
Mini-gardênia (Gardenia radicans florepleno)

Plantas de texturas variadas: 
Calanchoe (Kalanchoe laxiflora, Kalanchoe orgyalis)
Espada-de-são-jorge (Sansevieria zeylanica laurentii)
Espadinha-anã (Sansevieria hahnii)
Gasteria / língua-de-boi (Gasteria verrucosa)
Jacaré (Kalanchoe gastonis-bonnieri)
Lança-de-são-jorge (Sansevieria cylindrica)
Roel (Rhoeo spathacea (discolor) 

Plantas aquáticas:
Aguapé ou jacinto-d'água (Eichornia crassipes)
Flores-vermelhas (Ludwigia sedioides)
Ninféa ou nenufar (Nymphae sp.)
Pinheirinho-d'água (Miriophyllum brasiliense)
Santa-luzia ou alface-d'água (Pistia stratiotes).

Por: Arq. Prof. Ms. Beatriz Chimenthi.